Era para ser perfeito, e foi

José Gomes Filho (1919-1982), popularmente conhecido como Jackson do Pandeiro, de engraxate ao teatro, com todas as honrarias que um grande artista merece! 

Não existem palavras para descrever a nova obra da Barca dos corações partidos. A Barca lembra muito o teatro mambembe, não pelo cru daquela época, mas pelos atores que a compõe. Como fala Duda Maia: ” um encontro de Brasis”, os atores compõem o mapa do Brasil dentro da Barca.

São de todos os lugares, de cada canto da nossa pátria mãe gentil. Isso fica evidente e lindo quando o trabalho é bem desenvolvido, como fala um dos integrantes: “essa ideia está no imaginário do coletivo”.  Inclusive a carroça, símbolo da companhia, é uma alusão as trupes mambembes. 

Entre cores, ritmo e identidade, o espectador fica na tentativa de entender o que é personagem, ou (quem sabe) uma breve reencarnação do próprio Jackson do Pandeiro.

Não existe uma definição exata que permita distinguir as estrelas dessa obra fantástica. Quem sabe não se trata de um trabalho espírita, e certamente, devem estar incorporados! 

É possível… o musical tem uma força ímpar em qualquer aspecto teatral. 

Os rapazes foram regidos por ela, Duda Maia, que se fez gigante mais uma vez, com maestria de imensurável valor, que a cada trabalho desabrocha em mais talentos. 

Duda Maia, A Barca dos corações partidos e Andrea Alves são a certeza de espetáculos indubitavelmente perfeitos. Duda Maia é uma diretora do corpo, não se preocupa com truques ou pirotecnias e mesmo assim as suas execuções são perfeitas. Ela engradece o corpo, expõe a alma do ator. Eles se enlaçam e daí seguem esmeras encenações. 

Eduardo Rios, Renato Luciano e Adrén Alves trazem uma presença de palco exemplar, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Fábio Enriquez e Ricca Barros parecem estar mergulhados na alegria, dando vida ao maior espetáculo virtual de dois mil e vinte.

Os convidados parecem donos da casa, Everton Coroné, Lucas dos Prazeres e Luiza Loroza estão soltos e igualmente impactantes. 

O público inebriado fica perdido em brilhos, zabumba, caracterizações, figurinos e tamancos… 

Fica a sonhar com a diversidade dos instrumentos, que incrementam essa obra prima. O rei do ritmo ressuscitado por meio de suas canções eternizadas por “Sebastiana” e “Chiclete com banana”. 

Um texto poético, rico, nascido das mais inteligentes convicções da história do maior ritmista de todos os tempos. A obra, assinada por Braulio Tavares e Eduardo Rios, reafirma um belo musical, narrado por músicas, que também dialogam entre si. 

Era para ser um espetáculo presencial, mas a pandemia não permitiu.

Mas, se de um lado perde-se percussões corporais, que certamente iriam bater no mesmo compasso dos corações, do outro, tem-se imagens, que não seriam tão bem definidas, se assistidas das poltronas de qualquer teatro.

Um abuso de criatividade, uma apresentação inicial categórica, uma homenagem lindíssima e rica de imagens inimagináveis.

O figurino permanece brilhando nas memórias, como brilha a diretora, brilham os meninos atores, brilha o texto e brilha o mestre Jackson do Pandeiro.

A produtora cultural Andrea Alves, sempre traz à sociedade brasileira um banho cultural e o reavivamento de quem merece ser lembrado. Salve, salve! 

A essência brasileira em versos e música, lhes permite deitar em berço esplêndido e traz à luz da compreensão, versos de Gonçalves Dias… “Minha terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá” 

 

JACKSONS DO PANDEIRO  

Temporada até 7/2

Sexta a domingo, às 20h  

No canal do Youtube da Sarau Agência  

https://www.youtube.com/user/SarauAgencia  

 Fotos Daniel Barboza