Diálogo ou doutrinação: descubra quem são os doutrinadores

Tenho ouvido falar em doutrinação nas escolas. Tenho visto vídeos de gente se manifestando na porta de escolas, contra professores. Em alguns casos, estas manifestações se dão na porta de escolas que estão dentre as melhores do país. Tenho visto pessoas incitando alunos contra professores, incentivando-os a filmarem seus mestres.

Sou professor desde 1990. Quero deixar claro que isso é um profundo desrespeito. Um ataque à educação brasileira. Um ato indigno!

Dito isto, reafirmo que educação é um ato de amor. Amor porque e quando passa pela troca, pelo respeito mútuo e a crença no humano. E por falar nisso, aproveito para apresentar-lhes um sujeito que, a meu ver, merece todo respeito e engrandece o Brasil.

Trata-se de um pernambucano nascido em 1921, filho de Capitão da PM, que conheceu a pobreza extrema nos idos da crise de 1929. Ingressou na faculdade para cursar Direito, mas nunca exerceu a profissão. Desde então se dedicou a educação, com especial atenção aos adultos com defasagem escolar e a alfabetização desses.

Na década de 1960, desenvolveu projetos de alfabetização de adultos, a partir de suas vivências, com êxito extraordinário. Poucos dias eram necessários para que aqueles adultos aprendessem a ler e a escrever. Talvez por isso mesmo, quando do golpe militar foi preso por alguns meses e depois saiu em exílio ao Chile. De lá, após o início da ditadura de Pinochet, foi morar na Europa. Da Europa participou e orientou projetos educacionais em vários países, em especial, países africanos. Produziu uma extensa e reconhecida bibliografia, sendo considerado um de seus principais livros, A Pedagogia do Oprimido.

Universidades do mundo todo, cerca de 40, concederam a ele o título de Doutor Honoris Causa. Ou seja, concederam-lhe o título de doutor em reconhecimento a sua produção e importância no campo da educação. Além disso, recebeu vários prêmios internacionais como o Educação Para a Paz, da UNESCO, em 1986.

Sua concepção de educação se baseava no reconhecimento do saber que o aluno traz. Para ele o diálogo é aspecto fundamental no processo educacional e a visão de mundo do professor não pode ser imposta ao aluno. A educação que parte da realidade do educando e motivada pela dúvida é um aspecto de formação cidadã, que emancipa o aluno de qualquer imposição. O conhecimento é, portanto, para ele, algo construído e buscado por aluno e professor, considerando seus saberes. Ele chegou a cunhar a expressão “educação bancária”, da qual era contrário. Essa se baseia na prática do professor “depositar” seu conhecimento no aluno que, por sua vez, nesse caso, é considerado uma tábula rasa. Ele sempre combateu essa ideia.

Sim, esse pernambucano, brasileiro, do mundo e de todos os sofridos, era contra a imposição de ideias. Era contra a educação em que o professor determina a verdade. Qualquer que seja essa dita verdade. Se baseava no diálogo e no respeito mútuo. Repito, no respeito. Era um educador e, nesse amplo sentido, de verdade, não era um doutrinador.

Leitores, apresento-lhes Paulo Freire. E apresento-o porque ele é necessário. Apresento-o para lhes convidar à verdade. Vejamos, portanto, quem são os doutrinadores. Quem quer construir, de verdade, uma educação respeitosa e dialógica. Vamos, com o tempo e boa informação, descobrir quem quer, disfarçado de combatente da doutrinação, construir uma escola de princípio único, sem diálogo, crítica e democracia. Vamos levantar o véu da hipocrisia e descobrir a verdadeira face dos doutrinadores.