Definitivamente não somos feitas da costela

Sou feminista sim! E toda mulher ou todo homem também deveriam ser. Feminismo não é o contrário de machismo, como alguns insistem em maldizer e explanar, com frases prontas de efeito destrutivo: “Se machismo não é bom, feminismo também não é!”. Ao menos saibam o que dizem… o contrário de machismo é femismo, ambos preconceitos de gênero. Feminismo é o movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens, a “quebra” da hierarquização dos sexos. “Ao contrário do que prega o machismo, como um movimento de repressão e repúdio aos direitos igualitários entre homens e mulheres, o feminismo funciona não como uma tentativa de sobrepor o poder feminino sobre o masculino, mas sim de lutar pela igualdade entre mulheres e homens em todos os setores da sociedade.” Há realmente algo de errado nisso?

A luta das mulheres por equiparação de direitos já é antiga, ganhou força na década de 60, quando mulheres começaram a demonstrar o incômodo por não serem incluídas e respeitadas como cidadãs. O machismo está impregnado em nossa sociedade patriarcal, em nossas relações e atitudes. Reproduzimos comportamentos, ou falas machistas, o tempo todo, às vezes, inconscientemente. As consequências desse pensamento são gravíssimas. Mulheres vítimas são responsabilizadas pelo estupro sofrido, seja pelo modo que se portaram, ou pela maneira que se vestiam. Absurdo descabido! Acabam sofrendo multiplamente, sofrem a agressão física e psicológica e sofrem por serem apontadas como culpadas, sofrem com a fraca legislação e com a ineficiente punição dos agressores, sofrem com o descaso da sociedade e com o desdém de muitas pessoas, que insistem em não enxergar os fatos com clareza.

Meninos deviam ser educados a não serem estupradores e violadores do direito do outro!

Mulheres precisaram lutar muito. Lutaram pelo direito a serem alfabetizadas. Pelo direito a omitirem opinião. Pelo direito ao voto. Pelo direito a liberdade sexual. Pelo direito de exporem o próprio corpo. Pelo direito de cursarem uma universidade. Pelo direito de acessarem o mercado de trabalho. Pelo direito a cargos parlamentares. (Hoje ocupado também e minoritariamente por mulheres e algumas empossadas ainda debocham do feminismo!) E continuam precisando lutar, pelo direito a contracepção, pelo direito ao aborto, pelo direito a escolha sexual, pelo direito de serem ou não “do lar”, pelo direito de ir e vir com segurança e sem serem violadas, pelo direito de exercerem qualquer profissão sem serem julgadas pela sociedade, pela equiparação salarial.

Quando falamos: “- alguém ajuda a mamãe a lavar a louça?”, demonstramos claramente o quanto vivenciamos o machismo em nosso cotidiano. Primeiro: a louça é da casa, e não da mamãe! Segundo: a mamãe não deveria precisar pedir ajuda, se todos entendessem que tarefas domésticas não são necessariamente femininas. Haverá o dia em que as relações sociais e os comportamentos irão extinguir frases como essa…

Eu quero viver em um mundo plural, onde todos sejam aceitos e respeitados como são. Quero um mundo onde a taxa de feminicídio não cresça a cada 3 minutos com mais uma mulher morta. Um mundo onde não tenhamos notícias de mulheres sendo espancadas e violentadas brutalmente por seres que se dizem homens. Um mundo de homens com H maiúsculo que respeitem e valorizem as mulheres, antes de desejá-las.

Quero um mundo construído por mulheres e homens, que dividem os mesmos sonhos de terem uma sociedade mais justa, mais humana, sem hierarquia de gênero. Um mundo de homens e mulheres feministas! Um mundo que compreenda definitivamente que as mulheres jamais foram feitas da costela de um homem para satisfazê-los! E que Deus, se existe, e se tem gênero, poderia muito bem usar saias, ou ser uma mulher. Seria até mais lógico que o fosse, já que são as mulheres dotadas por natureza da capacidade de conceber, gestar e parir. O Deus masculino “tal qual foi criado” é fruto do domínio e da onipotência masculina.