Bagunça: uma transgressão inspiradora, no SESC Tijuca

É impossível não parabenizar o Sesc por sua curadoria, escolher “Bagunça” para a compor a pauta do Teatro Tijuca foi assertivo demais! A linguagem do espetáculo não peca, produção sem arranhões, se era o propósito atingir o público infantil, o SESC e o elenco do espetáculo foram exímios. Não se trata somente de um espetáculo, mais de uma conexão perfeita, entre público e espectador. As crianças ficam ensandecidas com o espetáculo, que mesmo sendo simples, sem um mega cenário ou uma super produção, conquistam a atenção e magnetizam a plateia.

São caixas e mais caixas. Caixas mágicas, que trazem surpresas e dão vida ao espetáculo. O Grupo Roda Gigante é uma célula viva da sociedade, que merece olhos vivos, ouvidos atentos e fomento, pois trata-se de um grupo de artistas, que por meio da sua arte acolhe as pessoas, acalenta quem possa estar atravessando momentos difíceis, dá atenção a quem precisa de um abraço. São artistas que inspiram, porque distribuem afeto com muita naturalidade. Sua arte transborda amor.

São verdadeiros heróis, que vão ao encontro dos pacientes em hospitais públicos, muitas vezes se expondo a doenças e outros riscos, para levar alegria e esperança. O grupo Roda Gigante apresenta um espetáculo sem grande produção, mas com a força hipnótica necessária para raptar sorrisos e palmas. Rememoram cantigas de roda, de infâncias bem vividas!  Oxalá, todas as instituições abrissem espaço para artistas-heróis competentes como esses, que espalham amor e alegria por onde passam.

Voltemos ao cenário concebido por Florência Santangelo e Eber Inácio. Simples e surpreendente, encanta a plateia. Caixas, que guardam magias, rodam o palco pelas mãos dos quatro artistas em cena, emitindo apenas ruídos (gramelos), uma delícia! Muito movimento cênico, música e percussão corporal.  O elenco seduz com facilidade, não só o público infantil, mas também o adulto. É um show à parte observar a plateia enquanto o espetáculo acontece. Incrível!

O figurino é uma graça, também simples chama atenção, macacões brancos durante o espetáculo vão perdendo a brancura. Sensacional a destreza de levar cor aos figurinos em palco! Ideia também dos artistas, que construíram o cenário mágico e surpreendente!

O espetáculo conta ainda com uma trilha sonora criada por Amora Pera e Pedro Rocha, que usaram da simplicidade e expertise com tons e letras de alcance a todos presentes. Daniel Uryon é o responsável pela iluminação bem equilibrada. A produção de Eber Inácio é concisa e sublime. O espetáculo tem dinâmica e parece que absolutamente tudo acontece como esperado. Tudo adorável. As caracterizações dos palhaços são feitas com delicadeza, a palhaçaria é a premissa da obra.

Vale lembrar que a arte da palhaçaria é uma tecnologia social com forte potencial pedagógico e dialógico, que poderá ter desdobramento como política pública a ser apropriada pelo SUS. Por isso há de julgar que o SESC deu o apoio certo a esses incansáveis operários da arte, que tantas vezes trabalham sem incentivo.

A atriz Florência está encantadora com seus movimentos corporais e faciais. Linda e sedutora! Florência durante a pandemia foi premiada no espetáculo “Las Panamericanas”, Prêmio de Humor de Fabio Porchat. Aliás, um dos melhores espetáculos burlescos já encenados! Florência é uma atriz nata, eficiente e totalmente contagiante, capaz de  alcançar não só as crianças, mas também as crianças interiores que habitam cada adulto.

Cristiana Brasil também se encarrega de dar brilho ao quarteto fantástico, ela faz rir e carrega consigo a arte do encantamento. Diogo Cardoso e Eber Inácio brincam em palco, são responsáveis por boas risadas, com suas incríveis execuções corporais. Nas caixas há mágica e as crianças entram nesse universo paralelo com entusiasmo, não existe a quarta parede, pois do palco saem serpentinas, bolas de sabão, bolas coloridas, biscoitos, tintas em pó que colorem figurinos e papéis…

A arte é algo não dimensionável, impossível agarrá-la, ou tentar julgar qualquer feito em nome dela, e isso se enxerga quando se presencia algo como o que foi apresentado no Teatro do Sesc Tijuca. Todos sorrindo e alegres, nem sinal da tristeza pelo momento pandêmico enfrentado! O artista brasileiro é fantástico, com ou sem dinheiro, com muito ou com pouco, sabe levar a alma ao céu, e isso faz valer a pena!

“A força das brincadeiras e dos jogos digitais vieram para ficar, não pensamos em brigar com eles. Eles têm até um lado lúdico, alguns trabalham a criatividade, mas nada se compara à experiência do corpo numa brincadeira. O canto, a dança, o pega-pega, as brincadeiras cantadas fazem parte de uma cultura da aprendizagem e do brincar. Incentivar isso é muito importante, e é um imenso prazer poder falar sobre a tal ‘bagunça’ utilizando um universo tão rico e surpreendente como o das crianças para podermos transgredir juntos no teatro”, contextualiza o diretor, produtor e ator Eber Inácio.

BAGUNÇA

Temporada até 20/02

Sábados e domingos, às 16h

Sesc Tijuca – Teatro 1

Rua Barão de Mesquita, 539, Tijuca

Informações: (21) 4020-2101

Ingressos: PCG – Grátis

R$ 2 (habilitados SESC); R$ 5 (meia) e R$ 10 (inteira)

A bilheteria do teatro funciona de 3ª a domingo de 9h às 17h

Duração: 50 minutos

Classificação Livre

FICHA TÉCNICA

Criação: Grupo Roda Gigante

Direção: Eber Inácio

Elenco: Cristiana Brasil, Diogo Cardoso, Eber Inácio e Florência Santángelo

Iluminação e Direção Técnica: Daniel Uryon

Cenário e figurino: Florência Santangelo e Eber Inácio

Trilha Sonora: Amora Pêra e Pedro Rocha

Letras e músicas: Eber Inácio

Projeto Gráfico: Renata Duarte

Fotos: DuHarte Fotografia

Divulgação: Marrom Glacê Assessoria de Imprensa – Gisele Machado & Bruno Morais

Estagiária de Produção: Rita Dias

Assistente Produção: Florência Santangelo

Produção: Eber Inácio

Direção de Produção: Inácio e Belém Produções Artísticas