A primorosa arte além do que se vê

É sempre bom ver Alexandre Lino nos palcos. E gradualmente os artistas estão voltando aos teatros com todos os protocolos de segurança.

“O cego e o louco” estende sua temporada no teatro Petra Gold, com a legitimidade de um texto sem arranhões, de Claudia Barral, que trouxe a plateia de volta às salas de teatro. Texto fluido, muitíssimo bem desenhado. Muitas fluências e colocações bem feitas. Quando se fala das relações humanas, lógico que há complexidade também, provocações, que levam a análises e questionamentos.

O texto torna-se confiante com as primeiras notas de uma sonoplastia primorosa. O profissional Tibor Fittel, amadurecido em suas práticas, ganha o público.

“Dois irmãos vivem juntos uma vida reclusa: o mais velho é um pintor, que não exerce mais a profissão, desde que perdeu a visão, e o mais novo, um jovem frágil a quem coube a prematura responsabilidade de cuidar de si e do irmão deficiente visual. O cotidiano solitário dos irmãos sofre uma reviravolta com a chegada de uma nova vizinha, e um simples chá de boas-vindas se transforma num thriller psicológico.”

A sinopse não traduz a composição teatral, que é de uma delicadeza e uma beleza ímpar.

Lino, mais uma vez, faz qualquer espectador flutuar com suas nuances performáticas. O teatro do ator chega a ser indecente, de tão majestoso. Não parece ter se isolado por tantos meses. Alexandre mergulhou profundamente nas almas desses artistas plásticos. Sempre, mesmo que aparentemente insolentes, donos de si. Perfeito, perfeito! A sua voz, remete ao “comportamento” desses artistas, aos quais veneramos. Quanta indolência de um artista só, de um personagem só.

Quanto ao seu par de palco, Daniel Dias da Silva, chega também com potência. Deliciosamente desafiador, um personagem que deveria ser menos favorecido, diante do pintor cego, no entanto, sua performance é linda. Usa da simplicidade, para enriquecer um personagem e torna-lo belo, daqueles que não se esquece. As expressões corporais de Daniel são lindas! Olhares definidos e bem situados.

A indolência do cego, sua altivez nada simpática, parece em equilíbrio com o louco, que não dá um passo a mais do que deveria ser dado. Tudo milimetricamente conciso, com sinuosidade.

Sueli Guerra, diretora de movimento, não fez só Alexandre se curvar sobre um prato de sopa, mas a todos da plateia, diante da magnitude de reger corpos. As mãos de Daniel… Ah, Sueli, seus devaneios corporais são mais sedutores, que qualquer encantador de serpentes.

O espetáculo poderia ser medido por um termômetro, pois não apresenta um ponto sequer a mais, ou a menos, da temperatura ideal.

Sergio Marimba compôs o cenário com primor. Telas vazias, um ar de acumuladores, algo não muito atípico dos ateliers.

Os figurinos idealizados por Victor Guedes atestam sua competência. O usual de outra década. Cores fechadas caem bem com o cenário. Casam-se harmonicamente. Tudo rústico e belo.   Nas apresentações feitas virtualmente era impossível tirar os olhos da tela, agora, o mesmo sucesso de crítica ocorre no presencial.

A iluminação de Mantovanilu, simplesmente tinge a beleza exata, tanto para o presencial como para o virtual. Quanta assertividade, uma verdadeira proeza!

O diretor Gustavo Wabner é o grande responsável por esse arranjo todo. Que mão forte! A força de um diretor se mostra eficiente, quando até a risada de um pintor cego, ainda que áspera, soa bem aos ouvidos. Quando também um personagem, limitado a suas deficiências, se inquieta em uma cadeira e oferece ao público o reconhecimento de um personagem muito bem construído.

O quadro “Os Girassóis”, de Vincent van Gogh, é muitíssimo bem representado pelo jarro entre os artistas, durante o espetáculo. Embora possa remeter também, à obra “Buquê de Girassóis”, de Claude Monet. Uma pitada de cultura universal bem colocada! Um presente para todos que assistem a esse trabalho, tão pleno!

Parabéns ao teatro Petra Gold por apresentar uma obra como essa. É o teatro na veia, é o teatro voltando com fúria, como ele é! Aqueles, que amam as artes cênicas, se deliciam com a tamanha façanha desse elenco, respeitável ficha técnica.

 

O CEGO E O LOUCO

Temporada até 17/9

Teatro Petra Gold

Rua Conde de Bernadote, 26, Leblon  

Informações: 21 2529-7700

Sextas-feiras, às 19 horas

Duração: 60 min

Classificação: 12 anos

Gênero: Comédia dramática

Ingressos a partir de R$20

Para comprar o ingresso acesse: https://www.sympla.com.br/online—o-cego-e-o-louco—teatro-petragold-online__1287363

O teatro segue as normas de segurança sanitária para a covid-19 e recebe 40 espectadores por sessão (apenas 10% da capacidade da sala)

 

FICHA TÉCNICA

Texto: Claudia Barral

Direção: Gustavo Wabner

Elenco: Alexandre Lino e Daniel Dias da Silva

Figurino: Victor Guedes

Cenografia: Sergio Marimba

Iluminação: Mantovaniluz

Trilha Sonora: Tibor Fittel

Direção de Movimento / Coreografia: Sueli Guerra

Direção de palco: Renato Rodolfo

Estagiária de Direção: Juliana Thiré

Design Gráfico: Gamba Jr.

Produção Executiva: Bruno Jahu

Assessoria de Imprensa: Bernadete Duarte

Direção de Produção: Daniel Dias da Silva

Realização: Territórios Produções Artísticas e Lunática Companhia de Teatro

Assessoria de Imprensa do Teatro PetraGold: JSPontes Comunicação